A meu convite, o leitor Gilberto Müller Beuren, escreveu este ótimo texto sobre sua viagem. Ele esteve nas Ilhas Faroe em maio deste ano e viu de pertinho, das arquibancadas (mas também não só delas), como se vive o futebol nas ilhas mais fantásticas do planeta.
Eu
visitei as Ilhas Faroe em maio deste ano, passei oito dias lá e o
principal foco da minha viagem foi conhecer estas maravilhosas ilhas.
Porém, como sou muito fã de futebol e já acompanhava o campeonato
local mesmo antes de ir viajar, não pude deixar de aproveitar e
fazer um turismo “futebolístico” também. Visitei os estádios e
sedes de todos os clubes do país, incluindo até alguns que já
estão inativos, como o do VB, do vilarejo de Sumba, o local habitado
mais ao sul do país, que fica na ilha de Suðuroy. A única exceção
foi a casa do B71 de Sandoy, que não pude visitar por questões de
tempo, o que me impossibilitou de conhecer a ilha de Sandur,
acessível apenas através de ferryboat.
A
primeira impressão que tive, ao visitar estes locais, foi a de como
é tudo muito mais compartilhado com a comunidade. Todos os campos
eram abertos, sem catracas, muros ou portas e qualquer um poderia
entrar ali e bater uma bolinha. Em muitos casos, como em Skála ou em
Sørvágur, haviam crianças locais lá jogando durante a tarde. Na
capital Tórshavn e em Fuglafjørður consegui presenciar as
categorias de base do B36 e do ÍF, respectivamente, treinando. Em
Toftir, no estádio que a seleção utilizava antes da construção
do Tórsvøllur, eu inclusive entrei no campo, peguei uma bola e fiz
um gol.
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Gilberto no estádio do AB. |
Também
percebi como é difícil encontrar camisas dos times locais. Existem
duas lojas de esporte no país: a Intersport (com lojas em Tórshavn,
Runavík e Klaksvík) e uma outra que não recordo o nome, mas que
fica no único shopping da capital. Nesta última loja consegui uma
camisa do HB. Na Intersport da capital arrumei uma do B36 e em
Klaksvík garanti a do KÍ. Em Runavík eu infelizmente não consegui
comprar nada, pois a loja já estava fechada. Comprei também a
camisa da seleção no próprio Tórsvøllur, onde tem uma loja que
também é uma espécie de lancheria. Nas sedes dos clubes não há
lojas ou qualquer coisa do tipo que venda produtos dos clubes.
No dia 16
de maio, que é um feriado religioso local, algo relacionado com a
Páscoa, mas que não entendi direito, eu estive em Norðragøta
passeando. Naturalmente, dei uma passada pelo Serpugerdi, estádio do
clube local, o Víkingur. Eram 14h quando estive lá e, as 15h iria
acontecer o jogo deles contra o ÍF pela 11ª rodada da Effodeildin.
Infelizmente, como meu roteiro estava apertado, não pude ficar para
assistir. Porém, pude presenciar a chegada dos jogadores dos dois
times. E aqui, mais uma grade diferença em comparação com o
futebol brasileiro (e da maioria dos países que estamos acostumados
a ver): os atletas vieram com os seus carros particulares, muitas
vezes acompanhados de algum outro colega de equipe, e estacionavam no
mesmo lugar que qualquer outro espectador deixa o carro. Como a
distância entre Norðragøta, onde ocorreria o jogo e Fuglafjørður,
casa do ÍF é de apenas 7,5km, o pessoal chegou tranquilamente. Foi
interessante também perceber que, apenas cerca de uma hora antes do
jogo que começam a preparar tudo para organizar o campo. Normalmente
diversas goleiras, de tamanhos diferentes, ficam no gramado, para as
crianças brincarem. Estas só foram retiradas na hora em que os
jogadores já se preparavam para fazer o primeiro aquecimento.
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Crianças brincando no estádio do Skála. |
Mais
tarde, voltei para a capital Tórshavn e fui para o Gundadalur para
enfim ter a grande experiência de assistir a um jogo da liga faroesa
ao vivo no estádio. Iriam se enfrentar o B36, atual bicampeão e
B68, equipe de Toftir. O jogo estava marcado para começar as 17:15
e, como cheguei um pouco antes, resolvi aproveitar e abastecer o
carro em um posto que fica bem perto do estádio. Lá, mais uma cena
curiosa: fui na loja de conveniência do posto comprar algum doce
para comer durante o jogo e encontro lá alguns jogadores do TB de
Tvøroyri comprando chocolates. Eles também estavam ali para
assistir ao jogo de mais tarde. Haviam jogado mais cedo contra o AB
em Argir, na região metropolitana de Tórshavn e precisavam matar
tempo até poder pegar o ferryboat de volta para a ilha de Suðuroy
(já que a ilha não é acessível de carro), que só sairia as 20h,
pois era feriado.
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Jogo entre B36 e B68 |
Perto do início do jogo eu fui então para a arquibancada, do lado
da torcida mais “neutra”. Para quem não conhece o Gundadalur, há
arquibancadas em apenas nos lados do estádio. Em uma parte há duas
arquibancadas menores, uma destinada à torcida do B36 e outra à
torcida do HB e na outra parte há uma arquibancada maior sem
identificação de clube. Atrás de uma das goleiras há um
“morrinho” com bancos rudimentares de madeira, onde muita gente
gosta de ficar, e, atrás da outra goleira fica um campo menor que
faz parte também do complexo que é chamado de Gundadalur.
Para
entrar lá, não havia nenhuma catraca, nenhum controle e o ingresso
não era cobrado. Imagino que no resto dos estádios e jogos seja
assim também, já que não havia nada que lembrasse uma bilheteria
nos outros lugares que eu visitei. A maior parte da torcida,
principalmente a que leva bumbos, canta e incentiva o time ficou na
arquibancada destinada ao B36. Do lado que eu fiquei, também estava
a delegação do TB e, bem próximo de mim, um narrador que ia
comentando o jogo. Foi uma partida tranquila para o B36, que venceu
por 3x1 sem grandes dificuldades. Apesar de não estar tão frio
nesse dia (cerca de 6°C), a sensação térmica era bem menor, por
causa do vento, e a experiência de assistir ao jogo na arquibancada
foi congelante.
Antes do
jogo, durante o intervalo e depois do jogo o campo foi invadido por
dezenas de crianças, que ficam lá brincando, chutando a bola contra
o gol ou simplesmente caminhando por lá. Quando o jogo está prestes
a iniciar (ou reiniciar), toca uma sirene e todos saem prontamente do
gramado. O acesso, tanto na entrada quanto na saída é muito
tranquilo e organizado. Eu vi inclusive pessoas com camisas do HB
circulando por lá sem causar nenhum tipo de conflito ou provocação
com os torcedores do B36, que também respeitaram de forma pacífica
a presença dos grandes rivais.
Por fim,
fui para o centro (que fica perto do estádio, já que a cidade, para
os nossos padrões é muito pequena) comer uma pizza. Lá, encontro
novamente alguns jogadores do TB que vieram pegar pizzas para levar
para a viagem.
Fotografia e texto: Gilberto Müller Beuren