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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Resumo de uma conversa com Alexandre Silva, técnico brasileiro que vive nas Ilhas Faroe

Alexandre Silva em Sørvágur.
Foto: Arquivo pessoal.
Em janeiro conversei com Alexandre Silva, brasileiro que vive nas Ilhas Faroe há 15 anos e que trabalha como técnico do time feminino do HB.

Trajetória até as Ilhas Faroe

Lateral esquerdo, Alexandre surgiu nas categorias de base do Botafogo e estreou nos profissionais em 1993, ano em que o clube foi campeão da Copa CONMEBOL. Depois disso, foi emprestado para Castelo e Rio Branco (ambos do Espírito Santo), e ainda passou por Moto Clube (Maranhão), Olaria (RJ) e Catuense (BA). Até decidir abandonar a carreira de jogador aos 25 anos.

Trabalhando em uma escola de futebol em Rondônia, ele recebeu um telefonema de um agente com uma proposta para jogar na Islândia. Lá, jogou pelo Leiftur, onde conheceu o faroês Jens Erik Rasmussen, que o convidou para jogar um pouco mais ao sul, nas Ilhas Faroe.

Vida nas Ilhas Faroe

Foi já a partir dessa fase de sua vida que comecei a conversa. Nas ilhas, Alexandre chegou para jogar no FS Vágar e foi funcionário do clube por mais de dez anos. Lá, além de jogador, ele também foi técnico dos times de base e até mesmo do feminino. Lá conheceu sua atual esposa, mas o relacionamento dos dois só começou bem depois.

Agora um falante do idioma faroês, ele conta que quando ainda era um recém chegado seus companheiros fizeram uma pequena brincadeira, o convencendo a dizer xingamentos em faroês ao técnico, que logo de cara entendeu a situação e todos caíram na gargalhada.

Como jogador, só teve oportunidade de jogar a primeira divisão em 2003, quando entrou em campo 13 vezes e marcou um gol (o campeonato na época tinha 18 jogos), mas onde realmente se destacou foi nas categorias de base. Comandando um trabalho bem sucedido no setor jovem do clube, Alexandre acabou saindo por não concordar com uma mudança nos métodos de trabalho.

Atualmente trabalhando como técnico do time feminino do HB, ele revela que no futuro pode ser o treinador do time masculino. E ele tem toda a capacitação que precisa, sendo um dos poucos brasileiros com uma licença A da UEFA (o que o permite treinar times de primeira divisão em quase toda federação filiada à entidade europeia).

Alexandre com um troféu conquistado pela base do 07 Vestur.
Foto: Arquivo pessoal
Mesmo estando na Europa, Alexandre acredita que a seleção brasileira deveria tentar jogar mais ao estilo que tornou o futebol brasileiro admirado no mundo todo: com mais dribles, imprevisível e ousado. Falando do futebol de seleções, ele me conta que trabalhou como tradutor durante a estadia da seleção portuguesa nas Ilhas Faroe. E destaca a seriedade com que o técnico Fernando Santos encarou a landsliðið.

Campeão europeu em julho, Portugal enfrentou as Ilhas Faroe exatamente três meses após a histórica conquista na França. Santos estava bem ciente da evolução faroesa. Após deixar a Grécia, ele viu seus ex-comandados perderem duas vezes para as Faroe, e a Hungria, com quem os portugueses fizeram um jogo duríssimo no Euro, ser anulada em Tórshavn, deixando o arquipélago com um empate por 0 a 0 em seu primeiro jogo nas eliminatórias para a Copa de 2018.

A derrota por goleada para os campeões europeus já era esperada, mas o importante foi ver como os faroeses foram tratados com respeito por um adversário tão grande. Alexandre explica que o que as Ilhas Faroe, com seus quase cinquenta mil habitantes faz, é exatamente como se uma pequena cidade resolvesse reunir seus melhores jogadores para enfrentar adversários muito mais tarimbados, e por incrível que pareça muitas vezes faz jogo duro. Disso nós sabemos, mas ele fala com todo os fascínio de quem vê de perto, de quem vive o futebol nas ilhas e de quem com certeza não esperava encontrar um povo com tanta paixão pelo esporte em um frio arquipélago no Atlântico Norte.

Pergunto a ele sobre a possibilidade de uma liga profissional nas ilhas, ele diz que um dos maiores obstáculos é a questão estrutural. Somente dois clubes tem três campos, por exemplo, e um deles é resultado da união com mais outros dois times, o TB/FC Suðuroy/Royn. Falando sobre o "novo" clube e a pequena polêmica gerada sobre o possível fim do TB, ele conta que era a mesma coisa com o Vágar, um time formado a partir de uma fusão, dizendo não entender o orgulho de algumas pessoas em relação aos feitos de um passado já distante.

Pai de quatro meninas, Alexandre Silva visita o Brasil a cada dois anos, assim ele passa as férias de fim de ano com a parte faroesa da família em um ano e com a parte brasileira no outro.

Bom pessoal, espero que tenham gostado do post. Só explicando por que foi feito desta maneira: a conversa foi por áudio, e eu acabei esquecendo de gravar a conversa. Fiquei bem chateado e até demorei mais do que devia para escrever o texto, também tentando lembrar dos principais assuntos.

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